A “moldagem” de Um Homem!...
Aconteceu assim, com a naturalidade da água que escorre da nascente. As aulas iam começar, mas ainda era férias. Fui almoçar com a Tita e os seus dois filhotes – o Miguel e a Ana que, nos seus vivos seis anitos, já vai “entrar para a primária”… Os pais tinham-lhe remodelado o quarto que, agora, tem “uma secretária para a Ana estudar”… Um bonito desafio para ganhar hábitos de trabalho e leitura. No silêncio pedagógico de “um cantinho só nosso”…
Já na sala de jantar, a Ana ronda-me e pergunta se “queres ir ver o meu quarto?”… - Agora não, que vamos comer. Depois de almoçar, diz a mãe. Mas a Ana não desiste. A cada pausa, vem o recado: - Vamos agora ver o meu quarto ?!... E, arrumada a mesa, Miguel já agarrado aos amigos via net, a Ana puxa-me e, a correr na minha frente, sobe para o quarto. A mãe sobe comigo, toda orgulhosa de tanta alegria na filha. Ana abre e logo fecha a porta, a olhar para nós: - Ah, está desarrumado!... O avô perdoa!...
Tudo bem mostrado, os três, sentados na cama, deixamo-nos cair para trás, enganchados naquele abraço rom-rom da ternura em família. E foi aí que, enternecido, me lembrei daquele episódio do Bom Papa João (S. João XXIII):
Pouco depois da sua eleição como Papa, à noite, Loris Capovilla, seu secretário, perguntou-lhe qual tinha sido a impressão mais forte daquele dia tão rico de acontecimentos e solenidades. – Pensava na minha casita de Sotto il Monte; pensava no meu pai e na minha mãe, respondeu João XXIII, como quem, melancolicamente, recorda um passado feliz.
Dou graças pelo que já vejo e mais ainda pelo muito que sonho para meus filhos: Uma casa assim, a “modelar” os meus netos, como “homens do amanhã”. Homens que, aos 75 anos, mesmo no dia mais glorioso de suas vidas, possam deixar escorrer assim um “pensava na minha casinha… no meu pai e na minha mãe”.